Todos possuem um instrumento com o qual exerce o seu trabalho. Tomemos por exemplo o pintor, que necessita de pincel, tinta e tela para realizar seu trabalho. O artista plástico necessita de uma talha, de um pedaço de madeira ou pedra e da força e habilidades de suas mãos. E qual é o principal instrumento de trabalho do professor?
O professor, por sua vez, também possui um instrumento de trabalho que é essencial para realização do seu trabalho: a VOZ, Assim como o cantor, o ator, locutor, o vendedor, o professor é considerado um profissional da voz, ou seja, ele depende da voz para exercer suas atividades profissionais.
Sendo o principal instrumento de trabalho do professor, a voz, deve estar sempre bem cuidada, merecendo especial atenção quanto ao seu uso adequado, para o seu bem-estar e para um rendimento efetivo em sala de aula.
As disfunções vocais requerem ajuda especializada, se você sente falta de vontade de falar, sintomas como rouquidão, dores e ardor na “garganta”, é uma clara sinalização que algo não vai bem com o aparelho fonador. A este quadro podem se aliar a tensão nos ombros e no pescoço, além de secreção, cansaço. A persistência destes sintomas por mais de quinze dias, ou sua manifestação com regularidade ensejam a procura de um especialista, pois o problema pode ser mais grave do que uma simples irritação ou inflamação.
Nos últimos anos foram realizadas várias pesquisas a respeito da voz do professor, com o intuito de verificar a qualidade vocal destes profissionais, abaixo transcrevemos alguns destes resultados estatísticos para uma breve comparação e, também para uma reflexão.
Araraquara (SP): 50,6% de 83 professores apresentam vozes alteradas de acordo com DRAGONE (1993).
São Bernardo do Campo (SP): 59,9% de 44 professores foram considerados disfônicos em estudo conduzido por NAGANO E BEHLAU (1993).
Botucatu (SP): 35% de 80 professores apresentaram vozes alteradas e 75,5% tensão em região de pescoço (TENOR, 1997).
Rio de Janeiro (UFRJ): 74,62% de 130 professores relataram alteração vocal (GARCIA, 1997).
Curitiba (PUC-PR): 95; 13% de um universo de 164 professores nunca tiveram treinamento vocal; 81,71% não utilizam nenhuma técnica para melhorar sua voz e dicção e 71,95% dos professores estão preocupados em fazer cursos de aperfeiçoamento e técnicas vocais segundo (PLETSCH (1997)).
Na cidade de Dourados dados levantados durante a realização de cursos do Programa de Saúde Vocal, revelaram que 95% dos professores, de um total de 284, apresentaram pelo menos alguns sintomas, tais como: rouquidão, ardência, cansaço, sequidão, sensação de corpo estranho, falhas na voz, sendo que uma grande maioria, 72% foram considerados disfônicos. (Baena, 2000).
Tais pesquisas ou levantamento de dados revelam índices elevados de problemas vocais, pois a maioria dos professores desconhece o funcionamento do aparelho fonatório, as noções sobre saúde vocal, os cuidados gerais e básicos sobre como prevenir problemas de voz e quais as técnicas vocais que poderiam contribuir para uma melhor performance vocal.
Procurar ajuda é muito importante
Como o professor enfrenta diariamente grande uso de sua voz na atividade profissional, é o sujeito que está mais exposto e suscetível a contrair problemas vocais. Na maioria das vezes, é afastado de suas atividades de docência, pois, sua voz não corresponde às expectativas profissionais, enquanto que, se tivesse uma boa orientação poderia continuar exercendo suas funções ou mesmo retornar à sala de aula.
O professor que apresentar os sintomas, já citados, deverá procurar o fonoaudiólogo ou o otorrinolaringologista, que são os profissionais mais indicados para avaliar, orientar e tratar os problemas vocais.
Tratar a voz é tratar o indivíduo, conhecer sua própria voz é conhecer a si próprio.
As alterações vocais ocasionadas principalmente pelas questões relacionadas à organização do trabalho têm levado diversas categorias, especialmente os educadores a situações de afastamento e incapacidade para o desempenho de suas funções, o que implica custos financeiros, profissionais, pessoais e sociais.
Por outro lado, as ações de vigilância e a elaboração de normas técnicas que adéqüem o conhecimento científico acumulado às novas condições e demandas de trabalho são praticamente inexistentes e fazem-se necessárias, urgentemente, uma vez que um número crescente de trabalhadores ingressa em categorias profissionais que utilizam a voz como instrumento de trabalho. É fundamental que haja maior envolvimento das instituições, como universidades, órgãos competentes do estado e municípios, para que mudanças mais robustas ocorram assim como políticas mais efetivas, sempre visando o bem comum de uma comunidade. A aprovação deste projeto e sua imediata aplicação, com certeza será de grande valia e vem de encontro à essa expectativa.
(Fonte Jornal Sinpropar)
Ademir G. Baena
Fonoaudiólogo
Especialista em Voz
CRFa. 6-0176
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